Arqueologia no Coração da Amazônia: pesquisa destaca a contribuição de comunidades tradicionais para a arqueologia
Publicado em: 7 de agosto de 2025
Trabalho foi assinado
por pesquisadores do Instituto Mamirauá e descreve a contribuição das
comunidades tradicionais para a arqueologia no Amazonas
Urnas descobertas por Késia Silva, 28 anos, no quintal de seu pai, o agricultor Ciriaco Silva, após dias intensos de chuva, no sítio "Fazendinha", em Alvarães. Foto: Miguel Monteiro
Arqueólogos colaboradores e do Instituto Mamirauá produziram artigo sobre a contribuição e atuação das comunidades ribeirinhas na conservação de objetos arqueológicos encontrados na região do Médio Solimões, no Amazonas.
Intitulado “Os ´Ajuntadores de Memória`
e a manutenção do patrimônio arqueológico e cultural em comunidades do Médio
Solimões – Amazonas”, o artigo foi publicado na edição 43, volume XII, do
periódico semestral Cadernos do
LEPPAARQ, administrado
pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da
Universidade Federal de Pelotas (LEPAARQ/UFPEL), no Rio Grande do Sul, cujas
publicações são focadas em artigos de antropologia, arqueologia e patrimônio
cultural.
O trabalho foi assinado por cinco arqueólogos do Grupo de Pesquisa “Arqueologia e Gestão do
Patrimônio Cultural da Amazônia”, do Instituto Mamirauá.
O artigo teve início pela arqueóloga e preservadora patrimonial Geórgea Holanda, e contou com a colaboração do arqueólogo Anderson Márcio Amaral, após uma experiência em visita a sítios arqueológicos do Médio Solimões, no Amazonas, em 2019. Na ocasião, os dois arqueólogos passaram um mês em campo, período onde identificaram mais de 40 sítios arqueológicos, dando início ao primeiro artigo intitulado “Narrativas Sobre o Modo de Vida dos Povos Amazônicos do Passado e do Presente em Comunidades do Médio Solimões”, publicado pela revista Arqueologia Pública, em 2023.
Arqueólogos Márcio Amaral e Geórgea Holanda
Posteriormente, com o objetivo de narrar a forma como os ribeirinhos e indígenas veem, guardam e preservam “cacos” e peças arqueológicas, até que elas sejam pesquisadas, surgiu o artigo “Os “Ajuntadores de Memória” e a manutenção do patrimônio arqueológico e cultural em comunidades do Médio Solimões – Amazonas”, que contou com a colaboração de mais três arqueólogos vinculados ao Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia do Instituto Mamirauá: o historiador e educador Maurício André da Silva; a arqueóloga Erêndira Oliveira; e o historiador e coordenador do grupo de pesquisa, Eduardo Kazuo Tamanaha.
“Durante minhas idas em campo, pude notar que os
moradores da região juntam ´cacos`, guardam e nos apresentam com bastante
curiosidade, perguntando sobre as peças e a quem pertenciam. Dizem que ´são dos
antigos`, de seus parentes e antepassados. Inclusive é bem comum, nos avisarem quando
encontram algo, e é a partir desse contato conosco que passa a existir um
trabalho colaborativo de grande importância para nós, arqueólogos. Além disso,
elas sempre trazem uma narrativa de onde e como encontram as peças, nos
ajudando bastante em nosso trabalho”, relatou a arqueóloga, Geórgea Holanda.
Valorização
A Amazônia é um lugar de mistérios e histórias, muitos
ainda escondidos embaixo dos pés de quem mora na região. E para desvendar essas
histórias, pesquisadores e arqueólogos do Instituto Mamirauá têm trabalhado cada vez mais
junto das comunidades ribeirinhas e territórios indígenas, ao mesmo tempo em
que dão protagonismo e reconhecimento a essas populações que inspiram o artigo,
sendo elas peças fundamentais para novas descobertas.
“Das comunidades que escavamos aqui na região, muitas
já sabiam da importância desses achados, sabem que ali viveram seus avós,
bisavós, tataravós, enfim seus ancestrais. Então essas pessoas acabam sendo as
protagonistas de suas próprias histórias, porque são elas que encontram esses
materiais, nos informam e é nossa obrigação acolhê-las e valorizar o material
encontrado nos sítios arqueológicos que elas chamam de lar”, destacou Márcio
Amaral, arqueólogo no Instituto Mamirauá.
Com as experiências, reconhecimento e envolvimento por
meio do Instituto, as comunidades tradicionais passaram a atuar de modo efetivo
perante os estudos arqueológicos na Amazônia, assumindo papel de destaque na
chamada “arqueologia colaborativa” e contribuindo com a história de modo geral.
Vale destacar que, nas últimas décadas, as pesquisas arqueológicas com colaboração de comunidades têm sido peças-chave para provar que a região amazônica é habitada há milhares de anos por populações indígenas, bem antes da chegada dos colonizadores, fato este de grande importância para a história da Amazônia e do Brasil.
“Cada sítio arqueológico conta a história de um
lugar e das pessoas que moraram ali há milhares de anos. No entanto, os
vestígios possuem uma limitação de alcance dessa linha temporal, sendo
essencial a memória e a história contada pelos moradores. Dessa maneira, conseguimos
reconstruir uma longa história de ocupação de uma região”, explicou o coordenador
do grupo de pesquisa, Eduardo Kazuo Tamanaha.
A arqueologia pelo Instituto Mamirauá
A atuação do
Instituto Mamirauá na arqueologia do Médio Solimões começou em 2001, após
moradores da comunidade Boa Esperança revelarem à comunidade acadêmica a
existência de urnas funerárias. A partir disso, o antropólogo Glen Sheppard
alertou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o que
resultou nas primeiras escavações realizadas por arqueólogos da Universidade de
São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Com base nessa experiência, o Instituto elaborou
seu primeiro projeto voltado à gestão do patrimônio arqueológico da Reserva
Amanã, em 2006. Dois anos depois, foi oficialmente reconhecido pelo IPHAN como Instituição
de Guarda e Pesquisa (IGP), tornando-se a única IGP
localizada no interior do Amazonas, um passo importante para
descentralizar a conservação de vestígios históricos na região.
Desde então, o acervo do Mamirauá reúne milhares de
fragmentos cerâmicos, líticos, ossos, carvões, e mais de 20 urnas funerárias de
diferentes culturas indígenas. Muitas dessas peças foram doadas por moradores
que convivem, há gerações, com vestígios arqueológicos e reconhecem no
Instituto um parceiro para preservá-los.
As descobertas mais marcantes incluem a escavação
de urnas na comunidade Tauary e a identificação de ilhas artificiais em áreas
de várzea no sítio arqueológico identificado como Lago do Cochila, no município
de Fonte Boa, revelando estratégias de ocupação até então inéditas na Amazônia.
A pesquisa arqueológica do Mamirauá tem como diferencial
o envolvimento direto das comunidades locais. Moradores participam da
logística, escavações e registro das memórias orais, contribuindo para
reconstruir a história da região a partir de múltiplas perspectivas.
Atualmente, o Instituto Mamirauá conta com o grupo
de pesquisa em Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia, sendo
composto por seis arqueólogos
que atuam em sete projetos voltados para pesquisas em laboratório, arqueologia,
história e antropologia.
Orientações
para achados arqueológicos
Os
pesquisadores do Instituto Mamirauá orientam que qualquer achado arqueológico
encontrado na região do Médio Solimões seja comunicado ao Instituto.
A comunicação pode ser feita por meio do grupo de
pesquisa "Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia",
via contato telefônico pelos números (97) 3343-9745 e (97) 3343-9801.
Para achados arqueológicos encontrados nas demais
regiões do Amazonas, deve-se entrar em contato com a Superintendência do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Manaus pelos
telefones (92) 3633-2822 ou (92) 3633-1532, ou ainda pelo e-mail 1sr@iphan.gov.br.
Acesse e
leia o Artigo
Para saber mais sobre o tema, os resultados e conhecer os profissionais que atuaram nesse projeto, acesse o link: https://x.gd/7xFzQ
Sobre o
Instituto Mamirauá
O Instituto Mamirauá é uma unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), que atua no desenvolvimento de pesquisas e ações
voltadas à conservação da biodiversidade e à melhoria da qualidade de vida das
populações tradicionais amazônicas.
Texto: Tácio Melo
Fotos: Miguel Monteiro
Assessoria de Comunicação do Instituto
Mamirauá
Contatos: +55 (97) 98119-8352 | ascom@mamiraua.org.br – Tefé (AM)
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